terça-feira, 15 de outubro de 2019

TRABALHO DO IRMÃO DAVID ARAÚJO JUNIOR

No dia 11 de Outubro de 2019 o Irmão David Araújo Junior apresentou na Loja Maçônica Edson Alves, a palestra sobre O Pavimento de Mosaico dando enfoque à visão Cabalísta do tema 


IRMÃO DAVID ARAÚJO JR





O SIMBOLISMO E SIGNIFICADO CABALÍSTICO DO PAVIMENTO MOSAICO


Trabalho apresentado à A.:R.:L.:S.: "Edson Alves", no. 4604, Oriente de Uberlândia - MG - GOB


Este trabalho é carinhosamente dedicado ao Ir.: Valdivino Vieira Nunes, meu irmão e pai do coração.


Pavimento mosaico ou pavimento de mosaicos?    

            O pavimento mosaico que estende-se no centro do templo maçônico tem especial importância analógica e simbólica e constitui um dos ornamentos da loja.



            Embora exista literatura designando-o como "pavimento de mosaicos", este termo não condiz com os primeiros escritos da Ordem. O adequado seria "pavimento mosaico", no singular. O plural seria verdadeiro se tivéssemos vários mosaicos na mesma estrutura.
            Antes de discutirmos o pavimento mosaico como analogia ou símbolo é preciso estudar a origem do termo "pavimento mosaico". O termo "mosaico" pode referir-se:
- Um painel de juxtaposição de pedras de distintas cores, formando desenhos ou formas geométricas.
- Um adjetivo referente a Moisés, profeta hebreu, considerado o maior deles pelos judeus, responsável pelo livramento do povo de Israel da escravidão no Egito e a codificação da Torá e dos dez mandamentos fundamentais do povo escolhido de Deus na antiguidade.

Pavimento mosaico como juxtaposição de ladrilhos

            Se tomarmos o primeiro sentido podemos considerar o pavimento mosaico como um símbolo visível de verdades maçônicas invisíveis.
            Os quadrados brancos e pretos simbolizam a dualidade do universo. Os opostos: claro e escuro, luz e trevas, positivo e negativo, quente e frio, masculino e feminino, o Bem e o Mal.
            Os opostos fazem parte de tudo que fazemos em nossas vidas. O maçon deve ter sabedoria para caminhar sobre os opostos. O livro de Eclesiastes diz "Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?" (Ec 7:16).




 Não conseguiríamos viver neste mundo se fôssemos justos ou sábios o tempo todo. Erasmo de Rotterdam, em seu "Elogio da Loucura" nos fala da necessidade de traços de insanidade para que vivamos próximos uns aos outros. É preciso ser um pouco louco para aceitar a loucura dos outros, que não é nada mais que as diferenças entre nós. O Bem não seria valorizado sem o contraste do Mal. As trevas e a luz são dois polos do mesmo espectro e a luz excessiva nos cegaria, assim como a escuridão absoluta. O frio extremo e o calor extremo matam. O masculino não subsistiria sem o feminino. O homem possui características masculinas e femininas no seu corpo e na sua mente que dão o equilíbrio nas situações da vida. O que nos atrai para o feminino é nossa própria porção feminina. E vice-versa. A tese do negro e a antítese do branco se unem na síntese.
            A borda denteada que circunda o pavimento mosaico simbolizaria o pai que congrega todos os filhos à sua volta, ou a humanidade, constituída por todas as suas inconsistências e diferenças, unidas em um todo coerente (um retângulo de dimensões áureas), limitados pela sabedoria e onisciência do G.:A.:D.:U.:


            Estas são interpretações possíveis e com elas poderíamos nos estender indefinidamente.

Pavimento mosaico como símbolo cabalístico

            No entanto, gostaríamos de discorrer sobre o significado cabalístico do pavimento mosaico e da palavra "mosaico" como sendo referente a Moisés e o povo israelita.
            O simbolismo dos graus maçônicos é em grande parte derivado dos ensinamentos e escritos mosaicos, segundo Albert Mackey.
            A Cabala ("Tradição") é considerada a tradição mística do ocidente. Sua existência é anterior aos sumérios, primeiro povo a utilizar a escrita, 3000 anos antes da era cristã. Suas origens se perdem e não há registro escrito da primeira menção aos ensinamentos cabalísticos. A Cabala constitui-se de ensinamentos originados das tradições egípcia, suméria e indiana. A tradição diz que os ensinamentos cabalísticos foram passados a Abraão por Enoque ("homem consciente"), filho de Seth ("fundamento").
            A Cabala oral perpetuou-se pelo discipulado dos mestres aos aprendizes da antiguidade. A Cabala escrita surgiu com a língua hebraica. Porém a Cabala oral continuou como tradição de ensinamentos passados pelos rabinos nos círculos iniciados, como interpretações da cabala escrita (Midrash).
            A Torá, ou Torah, é o conjunto de livros sagrados do judaísmo que contém a Cabala escrita em hebraico, codificada ("o que está à vista e não se vê"). Seu primeiro codificador foi Moisés, que segundo a tradição, a recebeu no alto do monte Sinai. Os cinco primeiros livros da Bíblia, o pentatêuco, formam o corpo da Torá na herança cristã.




            O hebraico antigo, no entanto, não possuía vogais, apenas consoantes. A leitura da Torá era reservada aos mestres, que davam sentido ao texto ao incluir nele suas "vogais". Com isto o texto era aberto a interpretações e ensinamentos que só poderiam ser passados aos iniciados durante a leitura pelo rabinos. A Torá teria interpretações distintas dependendo do ambiente espiritual em que era lida, permitindo infinitas combinações.
            Sabemos pela fisiologia da linguagem que as vogais são sempre vocalizadas através de um expirar controlado pelos músculos da fonação, pela conformação da cavidade nasal e pela língua: um sopro controlado, portanto.
            Os comentaristas cabalistas, como Gershon Sholem (1989) dizem que a verdadeira Torá não é somente o conjunto de livros dados a Moisés no monte Sinai. Que a Cabala primordial era considerada pelos místicos antes do século XIII como escrita antes da fundação do mundo, com "fogo negro sobre fogo branco". O fogo negro seria a lei escrita e o fogo branco a Cabala mística, revelada espiritualmente.




            Assim o branco do papel e o negro da escrita tomavam sentido pelo sopro do mestre. E a Torá, embora visível para todos, só assumia seu sentido mais místico pela expiração do mestre. E tornava-se pessoal, dirigida a cada homem e sua história espiritual. De acordo com o pentatêuco, lemos: "3Se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos e os cumprires... 12Andarei no meio de vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo" (Lev 26: 3-12).
            No original hebraico o termo "andares" tem realmente o sentido de locomover-se, ir adiante. Portanto, caminhar sobre o pavimento mosaico teria o sentido de caminhar pela vida, guiando-se pela Lei de Deus, não só escrita e acessível a todos os homens, mas interpretada por cada homem de acordo com a inspiração dada pela lei natural, a lei que repousa na consciência de cada um. Transfere, portanto, a responsabilidade de nossa conduta das mãos de outros homens para torná-la individual. Se seguirmos os ensinamentos místicos de acordo com a lei natural, estaremos fazendo aquilo que nos foi proposto desde o princípio (a eternidade de Deus).
            Ainda mais, caminhar sobre o pavimento mosaico significa que o maçon deve caminhar pela vida sabendo que há multiplicidade de interpretações e condutas, não limitadas por esta existência, ou por sua existência particular. Portanto, um chamado à humildade de caminhar por esta vida com a visão do aprendiz. Sempre haverá uma Verdade oculta.
            A borda denteada também pode também ser interpretada cabalisticamente como parte do pavimento mosaico e não somente um continente ou um limitador da vida espiritual do maçon. Ela é formada por triângulos equiláteros alternados, com os brancos com o vértice para o exterior e os negros com o vértice apontando para dentro. Sua interpretação seria exatamente o contrário de uma contenção, de um limite. Suas cores branca e preta apontariam para o caráter infinito da Lei Divina. Enquanto os triângulos negros apontam para dentro, para o mundo material, dirigido pela lei física, o mundo espiritual, ilimitado, simbolizado pelos triângulos brancos, aponta para fora, para a eternidade, para o caminho em direção ao G.:A.:D.:U.: O espírito é, portanto, ilimitado, e não prende-se à forma ou ao mundo material.
            Vale notar também que a Física nos mostra que a cor preta é a ausência absoluta de cores, enquanto o branco é a junção de todas as cores, segundo os experimentos de Isaac Newton. O negro, neste contexto, é a ausência de diversidade, de variabilidade, a Torá escrita com a intepretação estática, o plano físico. O branco é o universo de possibilidades (cores) que a interpretação oral permite. Há aí também uma mensagem aparentemente paradoxal. O branco não sugere mais a ideia de vazio. Sugere a ideia de totalidade, de plenitude.

Conclusão

            O papel do símbolo é evocar a Verdade oculta e nos fazer trazer para a vida seu significado e a sua prática. Neste estudo pude confrontar-me com a realidade da diversidade de opiniões, verdades e intepretações contidas nos símbolos maçônicos. A pesquisa me levou a fontes antigas, como a enciclopedia de Mackay,



 um dos pilares de nossa maçonaria especulativa, ao mesmo tempo que me colocou em contato com veículos importantes, atuais e fidedignos como a revista Ciência e Maçonaria.
            A interpretação alternativa do pavimento mosaico em relação à Cabala nos dá um novo olhar sobre um assunto que julgávamos saber, abrindo nossa consciência maçônica para a grande verdade de estarmos todos aprendendo continuamente neste longo, eterno e prazeroso caminho rumo à justiça e à perfeição.
           
Referências bibliográficas:

- Bíblia Sagrada na tradução de João Ferreira de Almeida.
- Noções Elementares de Cabala - A Tradição Esotérica do Ocidente - Francisco Valdomiro Lorenz - Editora Pensamento.
- Pavimento Mosaico - uma incursão simbólica pela Cabala medieval. - Rodrigo Peñaloza - Revista Ciência e Maçonaria - Vol 1 (2): 137-156 - Jul/Dez 2013.
- Aprendiz Maçon Pleno - João Dias - 2a. edição - 2016.
- Encyclopaedia of Freemasonry - Albert Mackay - Moss and Company - 1874. Google Books.
- Simbolismo do Primeiro Grau - Rizzardo do Camino - Livraria Maçônica Paulo Fuchs - sem data.
- Manual do Aprendiz Franco Maçon - Introdução ao Estudo da Ordem e da Doutrina Maçônica - Aldo Lavagnini - sem data.
- Elogio da Loucura (Encomiun Moriae) - Erasmo de Rotterdam (1466-1536) - edição em pdf de 2002 do site dominiopublico.gov.br.

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